Dando sequência à série de entrevistas sobre especialidades da Fisioterapia, desta vez vamos destacar a Fisioterapia Neurofuncional, uma área extremamente importante na recuperação de pacientes com doenças que afetam o Sistema Nervoso. Para falar um pouco sobre a Fisioterapia Neurofuncional, conversamos com o Dr. Lucas Brino, fisioterapeuta e delegado da Associação Brasileira de Fisioterapia Neurofuncional (ABRAFIN). Veja na íntegra!
1. O que é a Fisioterapia Neurofuncional?
A Fisioterapia Neurofuncional é a área de especialidade da Fisioterapia que atua de forma preventiva, curativa, adaptativa ou paliativa nas sequelas resultantes de danos ao Sistema Nervoso, abrangendo tanto o Sistema Nervoso Central como o Periférico, bem como àqueles com doenças neuromusculares (do neurônio motor, da placa motora e do músculo propriamente dito – miopatias). O fisioterapeuta neurofuncional tem a responsabilidade de avaliar o paciente, dar o diagnóstico cinético funcional, prescrever o tratamento e realizá-lo. É responsabilidade deste profissional, também, definir o momento da alta destes paciente.
2. A Fisioterapia Neurofuncional é recomendada em que tipo de situação?
Podem se beneficiar dos serviços do fisioterapeuta neurofuncional crianças e adultos com sequelas de diferentes complexidades e distribuições corporais tais como hemiplegias, paraplegias, cerebelopatias, disfunções vestibulares, parkinsonismo, polineuropatias, miopatias, doenças do neurônio motor, dentre outras.
Em outras palavras, procure um fisioterapeuta neurofuncional se você apresentar um ou mais dos sintomas abaixo:
· Tonteiras e/ou zumbidos;
· Perda de equilíbrio e quedas;
· Dificuldades para caminhar ou para se mover durante as atividades do seu dia-a-dia;
· Dificuldades para movimentar alguma parte do seu corpo que não seja em decorrência de algum trauma ou doença nos músculos e/ou ossos;
· Alterações na sensibilidade de alguma região corporal;
· Se você utiliza muletas ou cadeira de rodas e necessita trocá-las ou está com dificuldades na sua utilização.
Em primeiro lugar é importante frisar que nossa atuação não se limita ao tratamento das sequelas já estabelecidas, mas também desempenha ações relacionadas à prevenção tanto primária como secundária. Pode atuar em diversos cenários como clínicas, centros de reabilitação, hospitais, UTIs, centros desportivos adaptados ou mesmo em postos de saúde.
3. É possível, após as sessões de Fisioterapia Neurofuncional, devolver a qualidade de vida do paciente que sofreu alguma lesão motora?
Este é o principal foco da Fisioterapia Neurofuncional. Nós nos baseamos no modelo multidimensional da Classificação Internacional de Funcionalidade e saúde. O foco do tratamento ultrapassa os quesitos estrutura e função, ou seja, a parte anatômica e fisiológica. O fisioterapeuta neurofuncional baseia sua terapia na atividade (tarefa) e na participação social. O objetivo é devolver a independência, de acordo com a capacidade de cada paciente. Ou seja, fazer com que o paciente retome, o mais rápido possível, suas atividades básicas de vida diária, suas atividades instrumentais e profissionais.
4. Como é o tratamento em crianças? Elas respondem mais rápido?
A Fisioterapia Neurofuncional utiliza os princípios da neurociência para desenvolver o tratamento com os indivíduos. A descoberta de Neuroplasticidade nos deu uma outra visão da reabilitação. Quando pensamos em crianças, a capacidade de neuroplasticidade é imensa. Por isso, muitas vezes conseguimos resultados surpreendentes na Fisioterapia Neurofuncional Pediátrica.
5. O que o fisioterapeuta que pretende atuar nesta área deve fazer para se especializar?
É importante que, além da experiência clínica, o fisioterapeuta tenha passado por algum tipo de qualificação em nível de pós-graduação, preferencialmente sob a forma de residência multiprofissional.
6. Qual o papel da ABRAFIN?
A ABRAFIN é uma entidade científica que conduz suas ações com idoneidade, mantendo-se afastada de possíveis conflitos de interesse. Por causa disso, esta associação não faz apologia a métodos, não recomenda cursos nem serviços, limitando-se a instrumentalizar os que a procuram a escolher cursos, serviços e métodos de acordo com a legislação brasileira e levando em conta o maior nível de evidência científica existente.
7. Por que o fisioterapeuta que atua com Fisioterapia Neurofuncional deve se associar?
Não é uma questão de “dever se associar”, e sim de querer fazer parte de uma associação séria, que luta pelo desenvolvimento da Fisioterapia Neurofuncional. Além disso, o profissional que se associa tem acesso à muita informação e benefícios nos eventos da própria associação.
8. Como o profissional pode se tornar membro da ABRAFIN?
A ABRAFIN não segmentou as associações por estado. Temos representantes em todos os estados, mas todos vinculados unicamente à ABRAFIN.
9. Como é o mercado da Fisioterapia Neurofuncional no Espírito Santo?
A Fisioterapia Neurofuncional apresenta um leque enorme de várias doenças e incapacidades nas quais o fisioterapeuta pode atuar. A exemplo, doenças do sistema nervoso central, sistema nervoso periférico, doenças neuromusculares, vestibulares, doenças do envelhecimento, entre outras. Por isso, sempre digo que o mercado é amplo, porém o profissional precisa se especializar.
10. Que mensagem o senhor deixaria para quem deseja seguir esta área dentro da Fisioterapia?
A Fisioterapia Neurofuncional é extremamente gratificante, ao contrário do que muitos pensam. Conseguimos devolver independência às pessoas que sofreram um impacto muito grande nas suas vidas, muitas vezes no auge pessoal ou profissional. Para isso, além de muito estudo (como em todas as outras áreas da Fisioterapia), a Neurofuncional exige do fisioterapeuta uma pitada a mais de empatia.
Conheça mais um pouco sobre o nosso entrevistado:
Dr. Lucas Brino é fisioterapeuta.
Especialista em Neurologia – UNICAMP
Mestre em Ciências Biomédicas – UNICAMP
Aluno do 5º ano Osteopatia – EOM
Delegado Estadual ABRAFIN