Brinquedoteca do HUCAM representa um grande espaço lúdico para melhora dos pacientes e seus resposáveis

Às vésperas do Dia das Crianças, nada melhor do que o incentivo às brincadeiras. Por isso, o Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (Hucam), também conhecido como Hospital das Clínicas, em Vitória, está recebendo doações de brinquedos para a brinquedoteca implantada no local. O espaço é coordenado pela terapeuta ocupacional, Dra. Eliania Silva, que também é conselheira do CREFITO 15. Segundo ela, as brinquedotecas ainda não são uma realidade em todos os hospitais brasileiros com internação pediátrica, embora seja determinado por lei. Mas no Hucam essa realidade diferente  já reflete na melhora de pacientes e seus responsáveis. E o espaço é uma ótima oportunidade de atuação para o terapeuta ocupacional, que entende o brincar como uma modalidade terapêutica completa por si só. Acompanhe a entrevista completa abaixo!

 

  1. Como é o projeto da brinquedoteca hospitalar?

A brinquedoteca dentro do espaço hospitalar vem ganhando força no últimos anos, apesar de ter sido criada em 2005 a lei que obriga a implantação de brinquedotecas nas unidades de saúde que ofereçam atendimento pediátrico em regime de internação. Só nos últimos dois anos o Ministério da Saúde tem incentivado a implantação e/ou implementação desse espaço.

 

  1. A senhora atua na brinquedoteca no Hospital das Clínicas. Como foi/está sendo a implantação?

Em 2016, a terapeuta ocupacional Dra. Dalen Freitas iniciou a construção do projeto de implantação da brinquedoteca juntamente com a equipe da Pediatria desse hospital. Logo depois, essa colega saiu do hospital e eu fui chamada para dar continuidade ao projeto e dar início à organização desse espaço. Foram meses de pesquisas e compras de brinquedos, armários, jogos e muitos outros recursos que pudessem ser utilizados dentro do hospital sem pôr em risco a saúde e a segurança das crianças, que pudessem ser higienizados de forma adequada a atender às necessidades de faixas etárias diferentes, do bebê até o adolescente, de ambos os sexos, e considerando o limite de verba que foi doada pela UNIMED.

 

  1. Desde a implantação da brinquedoteca, a senhora percebe uma mudança nas crianças que estão internadas?

A mudança é visível. As crianças mudam depois que conhecem o espaço. Ficam mais alegres, menos ansiosas diante dos procedimentos, apresentam maior tolerância em aguardar a alta para casa. Os responsáveis estão sempre trazendo um retorno positivo, assim como os profissionais de Enfermagem e Medicina. Em uma pesquisa de satisfação feita com os usuários, a única queixa foi sobre o tempo de abertura, pois queriam que fosse ininterrupto. Esse retorno por parte dos usuários e também da equipe me deixa muito feliz e só mostra o quanto é benéfico e contribui para o tratamento.

 

  1. Como é a atuação da Terapia Ocupacional nessas brinquedotecas?

A Terapia Ocupacional atua em duas funções distintas dentro da brinquedoteca hospitalar.  Trabalha na atenção diária ao usuário dentro da brinquedoteca, acolhendo, proporcionando um momento lúdico com atividades livres, permitindo que o paciente se veja como ser ativo, autônomo pelo tempo que permanecer nesse espaço; promovendo uma quebra na rotina de dor, de procedimentos e ofertando a possibilidade de o usuário ter um pouco de sua rotina preservada em relação ao brincar; incentivando o brincar entre o paciente e seu responsável, oferecendo atividades que sejam prazerosas ao responsável,  proporcionando um momento de descanso, lazer, interação social. Permanecer internado é extremamente cansativo, estressante e sofrido tanto para o paciente quanto para seu acompanhante e, por isso, possibilitamos atenção para ambos dentro da brinquedoteca.

Já na coordenação da brinquedoteca, a Terapia Ocupacional cria procedimentos operacionais, processos de qualidade e fluxos para que o espaço funcione adequadamente, seguindo as regras da Agência Nacional de Saúde (ANS), considerando as orientações da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar e a rotina do próprio hospital. Busca parceiros para a manutenção do espaço, para adquirir e repor o acervo de brinquedos, organiza o fluxo e prepara os voluntários, residentes, alunos extensionistas, da prática do curso de Terapia Ocupacional e dos demais cursos que desejam fazer algum tipo de atividade nesse ambiente.

 

  1. Segundo as resoluções que tratam da implantação da brinquedoteca hospitalar, o coordenador do espaço deve ser um terapeuta ocupacional. Isso acontece na prática? 

Infelizmente, na prática, nem a implantação da brinquedoteca acontece. No Espirito Santo, a única unidade de saúde, da qual tenho conhecimento, que tem a brinquedoteca instalada é o Hucam. Aqui estamos seguindo a resolução de ter terapeuta ocupacional na coordenação e também dentro do espaço, não por todo tempo necessário, mas o tempo possível.

 

  1. A senhora acredita que as brinquedotecas hospitalares sejam também mais uma forma de valorização do profissional de Terapia Ocupacional?

Acredito que as brinquedotecas hospitalares sejam uma forma de valorização das práticas de humanização nesses espaços e também de reconhecimento da importância do brincar para o desenvolvimento motor, emocional e mental da criança e do adolescente e que a Terapia Ocupacional, sendo um profissional que atua com tanta propriedade nas áreas citadas, deve incentivar a implantação das brinquedotecas e ocupar seu lugar.

 

  1. É possível ajudar de alguma maneira doando brinquedos/livros para a brinquedoteca? 

A brinquedoteca repõe seu acervo de brinquedos e livros através de doação. Estamos sempre aceitando brinquedos e livros. Recebemos todos os brinquedos, jogos e livros paradidáticos e lá fazemos a triagem do que pode ou não ficar na brinquedoteca. O que não pode ficar damos de presente para as crianças que fazem aniversário durante a internação, no Dia das Crianças, Natal…

 

8.Como é a situação dos hospitais aqui no Estado? Todos cumpriram ou, pelo menos, estão cumprindo esta determinação de implantar uma brinquedoteca hospitalar?

Logo que comecei com a confecção do projeto de implantação da brinquedoteca fiz uma busca no site da Associação Brasileira de Brinquedotecas com outros colegas da profissão e não constava nenhuma brinquedoteca hospitalar cadastrada, pública ou privada.

 

  1. Quais as penalidades para quem não cumprir esta determinação do Ministério da Saúde?

A penalidade era de cancelamento da autorização para o funcionamento da empresa, que foi revogada. Acredito que as diversas brechas deixadas pelo próprio Ministério da Saúde tenham permitido o esquecimento desse espaço. Porém, em conjunto com diversos profissionais do Brasil (eu inclusive), está sendo construindo um documento desde o ano passado que servirá de guia para os hospitais implantarem as brinquedotecas.

 

  1. Qual a importância do brincar para a criança?

O brincar é a atividade própria da infância. Ele suscita na criança a curiosidade, a sensação de prazer, um sentimento de liberdade de ação, capacidade de desdramatizar as situações difíceis e isso tudo é possibilitado pelo espaço da brinquedoteca e pelo terapeuta ocupacional, que entende o brincar como uma modalidade terapêutica completa por si só.

  1. Quem quiser doar pode fazer como? 

Eu recebo os brinquedos e jogos na Pediatria do Hucam, em Vitória.

Conheça mais sobre nossa entrevistada:

 

Dra. Eliania P. Silva é terapeuta ocupacional.

Tem MBA em Gestão em Saúde.

Residência: Saúde da Criança.

Especialista:  U.T.I.N. e U.T.I.P

💬 Precisa de Ajuda?
X